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terça-feira, 23 de março de 2010

Blogdodesempregado - Cap12 - O Índico.....Powered by surfcamp portugal holidays&accommodations

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Se há Oceanos que em mim exercem um poder especial e a ter que escolher um, esse será o Índico.

É de facto longe e temos que ser obstinados para que vejamos como razoável a deslocação 'ao outro lado do mundo'. Após escolher como destino por dois anos consecutivos - 2003 e 2004 - o arquipélago das Maldivas, encontrei resposta às lacunas que no meu entender não deveriam existir quando se faz tão grande sacrifício - e fui à Indonésia em 2007. Apesar de fascinado pela fauna marinha e riqueza dos corais, as horas de surf e snoorkeling não me fizeram passar ao lado de um facto: a pobreza cultural de um arquipélago destinado ao extermínio via submersão.

Resolvi então passar do 8 ao 80 e parti em busca de uma cultura exponencialmente mais milenar que a nossa onde os valores de religião e de tradição ridicularizam os do quotidiano luso. Estivemos durante décadas - devido à causa Timorense e por contingências políticas - arredados de tão precioso destino. Ao desfolhar revistas de surf americanas, o arquipélago indonésio era descrito quase que como um playground australiano, onde as condições épicas tanto se aplicavam ao mar quanto ao tempo. Com excepção da época das monções, o clima tropical propicia pôres do sol intensos e as selvas impenetráveis desaguam em praias paradisíacas. O artesanato é de fazer suster a respiração - entre telas, estatuetas e máscaras escrupulósamente esculpidas em madeira ou pedra vulcânica e papagaios de papel pintados à mão, o baixo valor a que nos são propostos não nos deixam esquecer o ridículo custo da mão de obra asiática. Em Bali, a par de um comércio sem igual, a vida nocturna e o preço da hotelaria quase nos afastam do propósito com que lá nos deslocamos... as ondas.

De água cristalina e percorrendo rázas bancadas de coral, as ondas balinesas levam-nos a crer que surfamos muito e depressa, tal a perfeição e beleza com que nos são oferecidas a troco de nada. Das duas semanas e algo que por lá deambulei, entre surfadas épicas e leituras em praias paradisíacas onde sob palmeiras fui disfarçando a fome - com recipientes a abarrotar de fruta maduríssima e com topping de mel -  houve uma sessão que se destacou de todas as outras. Por ironia do destino ocorreu ao 13ºdia de viagem... 

O crowd como que por milagre desvaneceu, as ondas duplicaram o tamanho de até à data e a perfeição com que rompiam sobre as bancadas não consegue ser traduzido sob forma de caracteres. Ao chegar à praia, extasiado mas exausto, morri sobre a toalha e peguei no meu caderno para tentar imortalizar a razão pela qual todo o esforço financeiro e sentimental tinha valido a pena.

“Encontrei-te”

Começava até a perder a esperança de te conhecer,
Mas passadas que estão duas semanas dançámos os dois…
Quando cheguei ao pico apenas cinco pessoas te esperavam,
Mantive-me um pouco afastado e curti com uma mana tua,
Regressei feliz como só um Surfista sabe ser e parei mais sobre a bancada que os demais…
Eis que nem cinco minutos volvidos desatam todos a remar rumo ao horizonte,
Lá vinhas tu,
Remei com calma na tua direcção e passaste já de pé pelos que te tentaram alcançar,
Virei-te as costas e remei furiosamente para não te deixar escapar virgem e imaculada,
Passei rapidamente os pés para o deck e o offshore ergueu-te ainda mais,
Do alto dos teus três metros senti a imensidão do mundo e tornei-me pequeno,
Uma vertigem correu-me no estômago e as pernas tremeram-me enquanto mergulhei no teu dorso,
Eras curvilínea e esbelta como só uma onda balinesa o consegue ser,
Encetámos então a nossa dança,
Rápida, perigosa e excitante,
A adrenalina percorre-me o corpo em cada linha que te traço,
Um minuto torna-se uma eternidade,
O tempo congela e amamo-nos mutuamente,
O vento seca-nos a face e algures a meio caminho sinto pânico,
Quase horror,
Poderia classificar de respeito mas foi mesmo medo,
Impossível ignorar o coral que pisas,
Tenho fracções de segundo para uma decisão vital e resolvo aceder-te,
Deixo que me cubras com o teu espesso manto e deslizo pelas tuas entranhas,
Ouço o teu respirar ofegante enquanto procuro uma saída,
Nas sucessivas bancadas que sobrevoamos vão aparecendo outros que nos saúdam eufóricos de alegria,
Outros olham de soslaio transparecendo a mais podre das invejas,
Desejam a nossa morte, um descuido, uma desatenção que cause o desastre,
Seguimos os dois, tu e eu,
A prancha permanece serena sob os meus pés quando alcanço novamente a luz do dia,
Desenho novas linhas tornando a velocidade vertiginósa como jamais o tinha feito,
A cada bottom, a cada mudar de rail sinto o teu roncar estilhaçando vida a nossos pés,
Chegamos então ao fim da nossa dança
Do nosso tão aguardado e adiado bailado,
Pedes-me para te abandonar pois não podes fugir ao teu destino,
O mesmo que propôs que nos conhecêssemos,
Largo-te inundado de felicidade enquanto te desvaneces pouco mais à frente abraçando o coral,
Sinto-me outro,
Alguém rejuvenescido,
Percorri meio mundo para me encontrar contigo,
E desesperava já por este nosso fugaz encontro,
Um misto de receio e paixão,
De risco, paz e aventura… alguma infidelidade até…
Agora volto para casa,
Para aqueles que tudo são para mim,
Aqueles de quem abdiquei para vir ter contigo,
Para quem regresso agora mais completo pois carrego-te comigo,
Gravada com curvas e rasgadas na minha mente…
Foi bom ter-te conhecido,


A única e inigualável Onda Balinesa.
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