Blogdoexdesempregado - Cap37 - E a seguir...?

'This is the end' deves estar tu a ouvir não tarda muito.

Esta semana morreu o Saramago. Por muitas razões era um Nobel da Literatura, por outras tantas viveu enquanto pouco consensual. Li um dos seus livros e pouco fiz para ver a passagem deste ao cinema. Recordo-me que quando comecei a passar as primeiras páginas por entre os dedos, passou-me pela cabeça arrumá-lo e devolvê-lo ao dono. Estava no Índico, em plena boatrip quando um dos meus companheiros de viagem mo cedeu...

Tinha acabado de devorar uma qualquer comédia ( http://www.bertrand.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=67172 ) por entre dezenas de ondas clássicas e meia dúzia de revistas de surf. Já surrádas e gastas mas que serviram enquanto fonte de inspiração para momentos que já não voltam.

E dizia eu, bebericava então o meu chá para melhor apreciar o pôr do sol quando o repousei no meu colo...(  http://www.bertrand.pt/pesquisa/pesquisa.php?tipo_pesquisa=titulo&categoria_pesquisa=20002%7C12&chave=ensaio+sobre+a+cegueira ) Tive que lhe pôr açucar. Mas apenas resultou na infusão pois quanto ao livro pouco ou nada havia a fazer. O maluco que o escreveu tinha passado ao lado da pontuação e da maioria das regras mais básicas de ortografia. Parágrafos? 'Isso é para lêigos' pareceu-me ouvir o sussuro...

Acabei por fazer um esforço para me adaptar ao estilo e acabei por entrar no enrêdo e não mais parei até encerrar o capítulo. E em menos de nada tinha acabado o livro. Pouco depois dessa já ida época, entrou em fogo aceso com o país que o pariu quase que repudiando a sua nacionalidade. Outros anos volvidos e enceta guerra acesa com a igreja. Dizem que para promoção da sua nova obra literária... assegura que não precisa pois é literalmente mais conhecido que o papa. Apenas não aceita hipocrisia...

Certo é, que não era fácil nutrir qualquer tipo de simpatia pelo homem. Um tique de espalhar arrogância e desprezar críticas que não lhe fossem favoráveis levaram-me a esquecê-lo. E agora reapareceu. Mas afinal morreu, tal como os demais...

Após saber do facto, deixei-me levar em pensamentos nostálgicos e conclusivos. Que não levaram a nada, entenda-se. Nostálgicos porque tratam de morte e conclusivos porque a entendo como um fim. Talvez por estar numa sucessão de semanas em que a nortáda não me deixa surfar as condições que me mantêm a sanidade mental, esteja com um discurso tão cinzento:

- Tal onshore em mar lamacento, olho para um futuro cada vez mais próximo e lá ao fundo vejo o raio da cancela da portagem. Por muitos desvios que tomes, independentemente do itinerário que escolhas, acabarás invariavelmente por entrar nessa autoestrada. Uns conseguem segui-la até à última saída, outros entalam-se e saiem logo na primeira e depois há aqueles que a abandonam no instante exacto apesar dos outros condutores jurarem a pés juntos que ainda aguentava mais uns km...

O Saramago lograva fazer a revisão dos 90.000. Ainda poupou algum. Eu 'tou quase a fazer a dos 40' e ainda tenho umas curvas por fazer. Por certo não vou conseguir arranjar um Nobel para meter na bagageira. mas já tenho uns centos de ondas bem surfadas que mal cabem no porta luvas...

Descansa em paz.  

 

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Blogdoexdesempregado - Cap36 - O fim de uma relação

Sempre tive a ideia que um surfista é alguém que vive de bem com a vida e com o mundo.

100% intrusado com a natureza, espírito zen, um alcoolizado e inveterado bebedor da fonte da paz e alegria enfim... que tanto está bem num resort de 5 estrelas ou num qualquer surfcamp, junto a uma fogueira à beira mar ou num repasto de alto gabarito socializando com cínicos e emproados.

Mas venho-te confessar que somos capaz da mais atróz das acções... o culminar de uma relação íntima. Dão tudo por nós, olhamos para trás e o caminho que até então fôra forrado a pétalas é entendido como algo que já lá vai e remata-se assim sem um pré aviso... - 'minha cara, acabou'. Relegamo-la então ao abandono ou encostamo-la para que outro menos afortunado lhe pegue. Já sem aquela sensação de posse de outrora. Sem intimidade e muito longe de qualquer promiscuidade. Adeus, para mim morreste.

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De quando em vez ainda vou a uma daquelas galerias - protegidas por password's mais ou menos óbvias - e de modo saudoso surfo entre recordações. Passo pelo momento em que a conheci e recordo outros em que fomos um apenas. Babo-me com a sua nudez respeitósamente imortalizada naqueles frames...

Isso antes de tudo me parecer mau. Antes do peso excessivo e das mazélas do tempo... agora já tudo nela me parece cinzento. O cheiro não me excita e ao percorrer-lhe as linhas apenas reparo nas imperfeições que outrora não existiam. É então que decreto o fim. Uma e outra e mais outra vez. Vezes sem conta condeno-nos ao desencadear uma espécie de restart. Como um deplorável assassino de relações...

É então altura de procurar outra, uma que preencha a lacuna que me foi consumindo ao longo destas últimas surfadas e substitua a antecessora. Não sei se será melhor, diferente por certo. Os sufistas têm destas coisas... tão depressa estão bem com uma como melhor com outra. Pensando bem e neste contexto 'do ser deplorável que o surfista é', até a bigamia é bem aceite entre nós!!! E como qualquer machista assumido te confesso que o vice versa já não é assim tão simpático... tss tss tss.

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